A parte principal desta tabela define os habitats e consiste essencialmente em campos de escolha sim/não, indicativos das preferências ambientais das espécies. Esta standardização categorial estrita resume um extenso texto descritivo sobre as espécies encontradas nos diferentes tipos de ambiente, e torna esses dados descritivos acessíveis a requisitos rigorosos.
Os habitats estão divididos consoante os tipos de salinidade e indicada por campos de escolha sim/não. Para a água doce estão listados rios, lagos e cavernas. O último campo desta linha está relacionado com as cavernas e é SIM quando a espécie em questão é exclusivamente cavernícola.
Águas salobras reúne os estuários, lagoas e mares salobros, o que inclui a foz dos rios. A última categoria, água salgada, está dividida entra as zonas "inshore" (intertidal) e "offshore" (marinha). As outras subdivisões referem-se ao tipo de substrato na zona intermareal, móvel (areia, lama e argilas) e substrato rochoso.
As águas marinhas estão categorizadas em função da sua distância à costa em província oceânica e província nerítica, do tipo de substrato (móveis, rochosos), da colonização do substrato (recifes de coral, pradarias submarinas de fanerogâmicas, florestas submarinas de macroalgas. Um campo mangais agrupa estes habitats que podem ser banhados por águas de diferenres salinidades. Também a zona climato-geográfica preferencial da espécie é indicada de entre as seguintes escolhas: tropical, subtropical, temperada, boreal, austral, profundidade e altitude.
Ainda não estamos satisfeitos com estas classificações que nos parecem simples, mas que não são suficientemente operacionais, ao ponto de impedir escolhas claras para numerosas espécies. Esperamos sugestões para abordagens ainda mais simples, e portanto mais rigorosas para classificar os habitats aquáticos.
A próxima secção apresenta informação geral sobre os hábitos alimentares da espécie. O campo alimento principal refere-se ao tipo de alimento consumido principalmente de entre os seis alimentos seguintes: detritos; plantas; zoobentos; zooplâncton; necton; outro. O item "outro" é escolhido quando o tipo de alimento principal não está dentro das escolhas disponíveis. O item específico estará indicado no campo NOTAS.
O tipo de alimentação dá uma ideia geral do nível trófico ocupado pela espécie na teia trófica (veja a Caixa 20) de entre as seguintes escolhas: principalmente carnívoro, omnívoro, principalmente herbívoro. Assim um consumidor primário é principalmente herbívoro, enquanto que um consumidor secundário, terciário, etc, são maioritariamente carnívoros. Peixes que são parcialmente carnívoros e herbívoros estão classificados como omnívoros.
A tabela ECOLOGIA utiliza um campo de escolha múltipla para definir os nichos tróficos dos peixes e a "herbivoria" é uma dessas escolhas. Do mesmo modo, um valor de 2 no campo "troph" (troph -2 s.e. £ 2) da tabela ECOLOGIA indica herbivoria.
A figura 29 tira partido desta informação e apresenta um histograma das percentagens de peixes herbívoros, por intervalos de 10º de latitude. Ela ilustra o facto das espécies herbívoras de peixes serem bastante mais frequentes nas latitudes baixas do que nas elevadas, apesar da sua percentagem total entre os peixes ser pequena (>1,1%). Ambos os fenómenos, o pequeno número de herbívoros e a sua preferência pelas latitudes tropicais, podem ser explicados pela dificuldade que a maioria dos peixes tem em estabelecer e manter, ao longo do tempo, e após lutar pelo alimento, os valores de pH necessários à digestão de material vegetal, especialmente em temperaturas baixas.
O símbolo"<>" antes de 1,1% faz referência ao facto do tipo de alimentação ainda não está completo para todas as espécies e que o valor por defeito é principalmente carnívoro. Mesmo assim, quando este campo estiver completo para todas as espécies, espera-se que o número total de espécies herbívoras permaneça abaixo de 2% e que o pico nas baixas latitudes se mantenha.
Daniel Pauly
Outro importante atributo dos peixes incluído na tabela ECOLOGIA é o nível trófico (aqui abreviado para "troph"), que define a sua posição dentro da cadeia alimentar (ver caixa 21).Os trophs podem ser estimados utilizando vários métodos. A tabela ECOLOGIA tem dois campos para entradas de trophs e dos seus erros padrão: um para estimativas Ecopath (ver Caixa 19), e o outro para entradas da tabela dieta. Em ambos os casos as entradas corresponderão ao valor disponível, ou à mediana de um número de valores. As estimativas incluídas na tabela ECOLOGIA pertencem a juvenis/adultos ou adultos desde que não haja outra indicação. Um gráfico (Fig. 30) pode ser mostrado para ilustrar a relação do "troph" médio em função do comprimento total dos peixes.
Os níveis tróficos (aqui abreviados para "troph", para evitar sobreposições com "TL", utilizado para comprimento total) indicam onde operam os peixes e outros organismos nas suas cadeias alimentares. Ao contrário das contagens dos raios das barbatanas dorsais, os "trophs" não são atributos do organismo que possam ser categorizados, mas antes interacções com outros organismos. Assim, para estimar trophs de um peixe, devemos considerar tanto a composição da dieta, como os níveis tróficos dos alimentos. O "troph" de um determinado grupo de peixes (indivíduos, populações, espécies) é estimado de
Onde a contribuição dos diferentes alimentos é tida em consideração na média.
De acordo com a convenção estabelecida nos anos 60 pelo Programa Biológico Internacional, o nível trófico 1 é atribuído aos produtores primários e detritos (incluindo bactérias associadas) (Matthews 1993).
Assim, por exemplo a anchova, cuja dieta consiste de 50% de fitoplâncton (troph = 1= e 50% de zooplâncton herbívoro (troph = 2) teria um troph de 2.5. Este valor é uma fracção estimada que difere conceptual e numericamente dos valores integrados, que são muitas vezes assumidos para níveis tróficos mais elevados, e que pensamos serem demasiado imprecisos e pouco rigorosos para serem úteis em qualquer tipo de análises.
Um omnívoro é uma "espécie que se alimenta de mais do que um nível trófico" (Pimm 1982). Assim, um índice de omnivoria (O.I.) pode ser obtido a partir da variabilidade de níveis dos grupos alimentares de um consumidor. O O.I. assume o valor zero quando a alimentação ocorre ao mesmo nível e aumenta com a variedade de níveis dos alimentos.
Estão incorporadas rotinas para estimar trophs e valores O.I. no Ecopath software, que tem sido aplicado a um grande número de ecossistemas (c.f. Pauly & Christensen 1995; Pauly et al. 1998 e Caixa 18). Kline & Pauly(1998) mostraram que os valores de "troph" estimados pelo Ecopath correspondiam exactamente aos baseados nos rácios de isótopos estáveis.
Existem uma série de estimativas disponíveis para uma grande variedade de taxa, especialmente para invertebrados, peixes, mamíferos marinhos e outros grupos abrangidos pelas estatísticas FAO, que agora se encontram incluídos na FishBase.
A dieta descrita na FishBase, para muitas espécies de peixes, também permite a estimativa de níveis tróficos. Os "trophs" das presas, necessários para obter esta estimativa, são dados numa sub-tabela da tabela ALIMENTO.
É antecipado que as análises da FishBase baseadas em "trophs" tentam combinar estimativas de um grande número de grupos (como, por exemplo nas análises ilustradas a figura 4), pelo que imprecisões nalgumas estimativas sejam compensadas. Para abordagens mais rigorosas destas incertezas, são mostrados os erros padrão para a maioria da estimativas de trophs, baseados em
Referências
Kline, T. & D. Pauly. 1998. Cross-validation of trophic level estimates from a mass-balance model of Prince William Sound using 15N/14N data, p. 693-702. In Fishery stock assessment models. Alaska Sea Grant College Program. AK-SG-98-01.
Mathews, C.P. 1993. Productivity and energy flows at all trophic levels in the River Thames, England : Mark 2, p. 161-171. In V. Christensen & D. Pauly (éds.). Trophic models of aquatic ecosystems. ICLARM Conf. Proc. 26, 390 p.
Pauly, D. & V. Christensen. 1995. Primary production required to sustain global fisheries. Nature 374 : 255-257.
Pauly, D., V. Christensen, J. Dalsgaard, R. Froese & F. Torres, Jr. 1998. Fishing down the food webs. Science 279 : 860-863.
Pimm, S. 1982. Food webs. Chapman & Hall, London & New York. 219 p.
Daniel Pauly e Villy Christensen
Outra informação importante, disponível nesta secção, é o tipo de alimentação. As escolhas aqui incluídas consideram os hábitos alimentares dos peixes em diferentes zonas da coluna de água. A maior parte das espécies pelágicas ou são predadores (macrofauna caçadora) na coluna de água, filtradores de plâncton quando nadam perto da superfície, ou alimentando-se selectivamente de plâncton.
Chega-se à tabela ECOLOGIA clicando no botão Ecologia na tabela ESPÉCIES. O gráfico da figura 25 [troph = f(Lmax)] está acessível na tabela ECOLOGIA ou na janela GRÁFICOS.
Maria Lourdes D. Palomares
Caixa 20. A herbivoria, um fenómeno das baixas latitudes.
Fig. 29. Percentagem de espécies herbívoras da família Cichlidae e outros peixes, por latitude. Consulte a Caixa 20..
Caixa 21. Níveis tróficos dos peixes.
onde O.I. é o índice de omnivoria apresentado acima.
Fig. 30. Relação entre o nível trófico e comprimento máximo dos peixes. De notar que o declive positivo indica que as espécies maiores têm tendência a serem mais piscívoras que as menores.
Como chegar lá
